quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Antítese de um Tuareg

Calejado de caminhar
Ao redor de tuas paragens
Férteis paisagens
Fustiga-se em esteira macia
Numa silenciosa insolação
                                               De virar-se
                               Revirar-se
                                                               Virar-se
                Revirar-se
Virar-se
                                                                              Revirar-se
Em seu leito de brasa-viva

Numa azia corrosiva
Com cantil repleto de água
A boca é sol a pino no deserto
Sentado a sombra ácida das palmeiras

Camelos saciados
Crianças na aurora ingênua despojados no dique
E cirandando seu brotar em umidade feliz
O Tuareg quase réptil
Des-ca-man-do
                               Ca-ma-da
                                               Por 
                                                     ca-ma-da
                                                                      Da 
                                                          der-me
                                                     À
e-pi-der-me
                                                                              Des
      ca
          man
                   do 
                             Ca
                                   ma
                                         da
                                                  Por
                                          Ca
                                    ma
                               da
Deixa-se revelar
Num choro copioso
De areia
Choro de ampulheta

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Sobre pedras, cimento e asfalto

No fim da avenida do centro
A liberdade...
Entre verdades e meias-mentiras
Há liberdades por todas as margens
E paragens desta larga e envidraçada avenida

Germinam flores vitrificadas
Retorcidas em aço enraizadas em concreto
Pré-concebidas por deuses técnicos e acadêmicos
Com suas mãos de perfeitos traçados e curvas

Na Genesis desse paraíso de liberdade
Nunca as distâncias mais supremas
Foram tão suprimidas

A evolução nunca foi tão rápida
(ou seria uma revolução continuada)
Nada para
A liberdade engarrafada no meio da rua
Nada para
A liberdade numa ponta de uma faca
Nada para
A liberdade de pratos cheios e barrigas vazias
Nada para
A liberdade faminta devorando o planeta...

Mas minha liberdade esta aqui gradeada e encadeada
Na porta e janela de minha casa
Da sua casa
Do seu carro blindado
Do seu segurança...

Tenho a leve impressão que somos arvores
Cheias de vida e sendo livres
Mesmo sendo Bonsais.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Nem tudo é luz, ou trevas

A luz em ser luz
o é
nas trevas

A escuridão em si
o é
na luz

Mas entre o polo sul
e o polo norte
o sol inside
em movimento
e diferente
em cada ponto
sendo um movimento
segmentado
da luz
à escuridão
(segmentos e gamas infinitas
uma escala inominavel
de cores, de cinzas, de sombras...)

Quando um ponto
no globo
é dia
noutro é noite
entre eles
tantos outros
num espaço temporal
de claridades atemporais
e, assim, seguem-se
os dias
e os dias, assim,
vão

...

Resumir tudo
em dicotomia
é complexo
simplista
dos donos da verdade
e dicotomizar tudo
em luz ou escuridão
é uma tirania do saber:
impor sua verdade
e sua verdade vai ser sempre a bela

...

Nós humanos
recorremos a esse erro
e quando recai
que sua verdade é a luz
e a minha as trevas
(ou vice-versa)
exercemos a mesma função
de quem, muitas
e muitas vezes criticamos.

Como revolucionar
o mundo com sua luz
se não levar
que a mediocridade
da cega-única-verdade-virtude
não revoluciona nem em ti
a abertura para tua propria luz?

Somos e seremos
tiranos de ideiais e meiasverdades
ditatorizando
num rolo-compressor
o diferente

domingo, 17 de abril de 2011

De lágrima e tabaco

À alma, paz fustigada
amarrada
em linha puída,
não se debate
se resigna
a ansiedade
de querer ser livre
mas há liberdade
com paz?
na paz?

Tantos fatos
iniquos atos
injustos quadros
pobres retratos
de tantas realidades...
como há paz
em um ser
em tantas paisagens escravas?

Entanto, enquanto
a resignação
for a não ação
ou a ação passiva
de baixar a cabeça
e fazer vistas grossas
a escravidão pós-moderna
a paz é uma busca eterna
e sem liberdade
e sem felicidade...

...

Escrevo sem paz
inliberto
mesmo podendo ir e vir
sem restrição
mas com medo
cansado
dessa linha puída
e invisivel
que me prende o rabo
numa ansiedade
vertiginosa
- de ser livre
de ser feliz
(diz a felicidade estar em nós)
uma inverdade
fabricada em larga escala
produzida em "Tempos (pós)Modernos"
vendida em autoajuda
numa virtual-super-hiper-liquida-ação -
embotado em lágrimas
suor-dos-olhos-tristes
e fumaça de tabaco
expiração-palpitante-depressiva.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Tudo pode se perder na memoria, menos os amores

"Um grande amor agente nunca esquece"
Na minha verdade
isso não cabe
como medir o tamanho
de um sentimento?
sendo ele o amor, então?
.
.
.
Quando o maldito alemão
chegar a mim
e aos poucos fores
fazendo seu assassinio
de lembranças:
sejam suadas choradas
risadas gargalhadas
caricias gozadas
malicias olhadas;
e uma-a-uma
declinar ao seu tiro
degradante
degenerativo
o amor ainda estará
aqui
se não na memoria cerebral
na corporea
cada ruga uma rusga fustigada cançada
presente à pele
pois os amores na vida
(pois quem tem um amor
viveu pouco
eu tive amores)
deixaram suas feridas
umidas ainda
sem sarar por completo
sendo eternas
mesmo que cicatrizem...

As prateleiras da biblioteca-de-recordação
podem esvaziar-se
mas as marcas
na estante da lembraça
sejam desenhos formas
em acumulos de poeiras-neuroniais
ou ranhuras nas sinapses já degeneradas
restarão

Mesmo desconhecendo logicamente
o significado do vislumbre-delirio senil
restarão sentidos
sentimentos variados
mesmo em batimentos
lentos e vagarosos
em espasmos do pré-mortem

Sobrarão amores
mesmo com cerebro vazio
sobrarão mesmo que seja
no outro
em quem fica

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Recordações da ditadura militar

Socorro!
Os militares voltaram
a democracia
morre torta na baioneta da hipocrisia

Socorro!
Há vergonha escondida
nas ideias subtendidas
de falsos moralistas?

Socorro!
O sangue da liberdade
escorre agora em palavras de censura
as mesmas que enlouqueceram Geraldo Vandré
e tortura
que sumiram tantos corpos
desapareceram tantas vidas

Socorro!
Alguém apanha minha vergonha
pela minha melancolia
pois minha alegria
é rir da mesquinharia
de uns
e tantos outros
ditos puros
ou quase perfeitos
Deuses e não humanos

Socorro!
Ponham a vergonha ridícula
em minha cara
façam dela vara
ou açoite
e me torturem num carcere virtual
ou me escravizem num pau de arara

Soneto da masturbação - Ode a punheta

Faço sexo seguro
a anos com a mesma vadia
ela come meu falo
enche sua palma vazia

Me deleito em suas cavidades
mal traçadas pela vida
cicatrizes das idades
da jovialidade perdida

Lambuzo teus morros
satisfaço a mim, meu ego,
estremeço de gozos

Uivo num grito cego
a vontade de tê-la atroz
de novo, meter-la veloz

...

Há anos eu transo alegria
numa desapegada ilusão
dum egoísmo racional
de conhecer meu próprio pau
fodendo com segurança e emoção
minha mão vadia

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Qual a ordem das coisas? Há ordem? Ou melhor há moral? Que moral? Pensando... Há ética?

Quanta sombra fria
na irradiação do sol
na cega luz do dia

Quanto silêncio complacente
numa sinfonia em sibemol
na fila(des)armonica de gente

Quanto olhar espantado
num mar de pestanas cumplices
em maremoto de indiferenças

Quantas bocas em crenças
na fé radical da salvação
masca e fustiga o irmão
numa ansia de ve-lo escarrado

Quanta orelha sadia
capta em escuta minuciosa
tudo que se diz
numa fala astuta e ambiciosa
reproduz ao sabor do dia
o melhor, arrotando o que condiz

Quanta voz abafada
numa tristeza escondida
sorrindo entre-dentes ofendida
na divina resignação
numa torpe aceitação
gritava mesmo enraivada

Quanto calor radiante
na treva sedutora da noite
clareia em lua ofuscante
.
.
.

Nada ou tudo
caminha junto
separados numa descida
comuns em ingrime subida
.
.
.
Nada está em ordem
tudo em desordem
nada na desordem
tudo em ordem

Qual nada
tudo depende da ordem
ou desordem de quem quer
como quer
ou como quer que sejam
.
.
.

Tudo tem moral
nada é amoral
tudo tem parte imoral
nada na moral
tudo amoral
nada tem de imoral

Qual tudo
nada a moral
entre o amoral e o imoral
na instituição do que o é
quem é o que tem
qual que tem?
.
.
.

Tudo tem uma certa ética
nada vive sem ética
numa instituição coorporativista da sua ética
tudo, assim, nada em uma ego-ética
nada, portanto, paira em etica-grupista...

Qual tudo vive num conjunto
onde nada inexiste
na utopica vastidão de um todo harmonico
Há a ética num tudo bem comun
nada, em segundo, o individual interesse.