segunda-feira, 14 de junho de 2010

O lento assassinato de um espirito romântico

As vozes em ecos
ecos
ecos de socorros
percorrem em ondas
um vale rigido
de paredes flácidas

Pedidos de S.O.S.
escrito em sangue
por todos os lados
sendo um só lado
o de dentro

Marcas de unhas
num esforço homerico
de não desabar nesse despenhadeiro
sem fim
rastros de um passado
preso em não despencar

Ecos de socorro
numa queda enorme
queda livre
mesmo tão preso
no esquecimento do que era
para ser o que quer
que tem que ser

E ele esse espirito livre
que amava os detalhes
mesmo sendo pequeninos entalhes
empurrado por uma mão
mesmo sendo sua
nesse vale
sem fim
de um fim
que nem veio
ainda
estende-se contraido
retraido
nessa queda preso
em livre arbitrio
da dita dura resposabilidade

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A grande (des)ilusão

Quando de tudo
uma vida se inteira
e de uma parte
de tudo reparte
ao passado tende a volver

Refazer as trilhas
já andadas
na memoria
é exercicio comico
se não tragico

A rebeldia da juventude
ardente em vigorosa
intempestiva dona da verdade
passa por cima
qual rolo compressor radical
amassando tudo
qual betume no asfalto

Agindo agindo
não sem pensar
mas num pensar fixo
quase concreto
(porem utopico)
que sua forma
é a forma certa
querendo fazer sua verdade
a verdade universal

Tirano de jovem idade
impõe
e não repõe as perdas
não cura as feridas
machuca e arranha
o que difere de sua imagem refletida
Narciso adolescente
forte e descrente
do pensamento e ações diferentes

Crente cego
em sua fé microscópica
não vê futuro
esquece passado
é só presente
o prazer eufórico
efemero do instante

Trava trincheiras
entre os seus
os teus
e os outros
isolado na ilha-de-ego
.
.
.
A graça tragica
é sentar seus cabelos grisalhos
num banco
e saudoso de sua juventude
perceber o quanto
por tanto
tempo
fou tão pouco
e perdido na sua utopia
poderia ter sido mais
mais se não fosse
assim
quem seria sentado
no banco
nem sabe se estaria?

quarta-feira, 24 de março de 2010

"Tem remédio para isto?"

Pergunta feita por uma amiga, entre lágrimas e risos.

        Remédio
Para dormir
        Remédio
Ao acordar
        Remédio
Para o apetite
        Remédio
Para não dormir
        Remédio
Para digestão
        Remédio
Para trabalhar
        Remédio
Para conviver
        Remédio
Para diversão
        Remédio
Para pensar
        Remédio
Para engravidar
        Remédio
Para nascer
        Remédio
Para desinibir
        Remédio
Para crescer
        Remédio
Para controlar
        Remédio
Para curar
        Remédio
Para transar
        Remédio
Para dor
        Remédio
Para tensão
        Remédio
Para viver
       Remédio
Para sonhar
       Remédio
Para realidade
       Remédio
Para adaptar
       Remédio
Para saudade
       Remédio
Para não morrer
   De Tédio
       Remédio

Poesia escrita em 04/02/10, mas batizada ontem pela magnífica pergunta.

domingo, 14 de março de 2010

Jardim improvável

Em solo humanamente
enriquecido:
       o humus das viceras
                já apodrecidas
                é terra firme fertilizadas
       o cálcio e os benefícios
                dos ossos já triturados
                esmigalhados misturados
                a essa terra fértil
                faz vida ainda mais vida
                nessa terra rica
       não contente em riqueza
                esse solo tão humano
                recebe em devorada felicidade
                a irrigação bombeada
                em paixão inconstante
                sangue numa explosão vulcânica
                fazendo do solo
                úmido, poroso, viceral
                uma lama fervente
                avida de vida
                avida de criação
                berçario, horta, jardim
               
Um manguezal
semeado por letras
brotante em palavras
folheado em versos
floreado em estrofes
colhido ou replantado em poesias
ou perdido em garrafas-poemas-vazias
                                                ou cheias de ausências
(na subida da maré)

segunda-feira, 8 de março de 2010

4º andar

No hall
entrada
salão festivo
elevador
escada
esporádicos
bons dias
boas tardes
boas noites
ou gesto simples
de segurar portão

No primeiro andar
sede administrativa
casa da sindica

No segundo andar
nada
a não ser
que está entre o primeiro
e o terceiro

No terceiro andar
uma laje
de separação
vozes perdidas
mal escutadas
mal entendidas
não identificadas
só do 304
que sobe em reclamação
das fumaças
das cinzas
de cigarros desgaarrados
tragados no coração

No quarto andar
quatro portas
quatros vidas
separadas
divididas
desconhecidas
isoladas
em blocos vigas e cimentos
que o ponteiro
do dia-a-dia
velozes atrozes ferozes
sela em distância
vizinhos sentimentos

Nos demais andares
escadas
e lajes acima
igualmente embotados
na distância individualista
dos cimentos blocos e vigas
edificada

sexta-feira, 5 de março de 2010

Porta-retrato

Porta fachada
num retrato fechado

Porta tristeza
num retrato sorriso

Porta lágrimas
num retrato fachada

Porta vernizes
num retrato sem cor

Porta dores
num retrato colorido

Porta vida
num retrato ferido

Porta alegria
num retrato rasgado

Porta chagas
num retrato curado

Porta fechada
Porta aberta
num retrato fachada

quinta-feira, 4 de março de 2010

temos que ser estanques ou somos voláteis?

O sol que nasce
hoje
não é o mesmo
ao se por a tarde
tão pouco
ao nascer amanhã

O rio que passa
agora
já não é o rio porvir
nem o rio ali na frente
é o que passou aqui

A árvore
na sua
raiz
constante
se move
inconstante
atemporal
não é de hoje
nem de amanhã
muito menos de ontem

O ar não para
                     é aqui
                              não é ali
                                          nem vai ser aculá
nem no passado
nem do presente
nem do futuro
é só
e todo
mo
vi
men
to

Nem o ser humano
tem por tudo
uma fixação no tempo
o tempo todo:
as ideias passam
os amores chegam
os sentimentos virão
as paixões
padecem
padeceram
padecerão

O vivo morre
o morto vive
o novo é velho
o velho é novo

Como a chuva que
cai
mesmo perene
não é aquela, daqui
agora,
a mesma ali
adiante

Como a pedra
milenar
mesmo imovel
na ilusão dos sentidos
não para
nem congela
num ponto fixo do tempo

Tudo muda todo muda tempo tudo tempo todo
tempo todo tempo tudo muda todo tempo muda
tempo muda muda todo tudo tempo tudo todo
tudo todo tudo tempo todo tudo muda tudo
muda tudo todo tudo muda tempo todo tempo
todo tempo tudo todo muda tempo muda tudo
muda tempo todo tempo todo tudo muda tudo
todo tudo muda tudo tudo todo tempo muda
tudo tempo tudo todo tempo muda tempo todo
muda todo tempo muda tempo todo tudo muda
tempo tudo tempo todo tudo muda todo tempo
todo muda tudo muda todo tempo muda tudo

num lapso
flexo
reflexo retorno
nada para tempo todo

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Acordar e ver a luz do sol se por

Todo sonho
é só um sonho
que sonho
em matizes
coloridas imaginações

Amores cumplices
entendimentos
sentimentos
companheiros
correspondidos
compreendidos

Amizades presentes
todos juntos
num só caminho
caminho abraçados
de sonhos comuns
compartilhados

Paz não no horizonte
mas nas pegadas
comuns divididas
de mãos dadas
no presente
desde ontem

Um sonho
sonho não utópico
um sonho real
não um paraiso
mas um sonho humano
de entendimento
de respeito
em sermos diferentes
sendo um só
mesmo sendo tantos
tão diferentes
mesmo dentro da gente
somos tantos tão diferentes
e tão iguais
em sermos em nós
tão diferentes

Um sonho
de sonhar em harmonia
de uma sinfonia
de uma orquestra
chamada humanidade

...

Não vi esse nascer de sol
nem verei de mão dadas aos amigos
cada um tem seu próprio caminho
cada um tem seu proprio quadrado
e não gostam de ser desviados
e não gostam de ser invadidos
mas cabe respeita-los

...

Como cabe
a um sonhador
num tempo do enterro do carinho
chorar acordado
solitário
a luz do sol
se por
num horizonte distante
distante até de um futuro
bem distante.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Pânico apertado

O medo dá um abraço
forte abraço
apertado
ajustado
bem
muito bem apertado
sufocante
junto a um
único beijo
beijo rançoso
asqueroso
desenperançoso

O medo nina um sono
embala um sono febril
sono quente
borbulhante em sonhos
sonhos de culpas
transpirantes sonhos
de culpas
da carne
da obscenidade
dos desejos
(aflorados e/ou reprimidos)

O medo é um suor
que escorre
feroz
atroz
em musculos retraídos
tensos
densos
de ansiedade contraída
ele
suor fétido
ensopa a carne
jorra
brota qual geiser
de apreensão
de prontidão
num jato veloz
que agita tudo
que queima a paz
num fogo
vivo
de uma taquicardia
frequente
crescente
em vertigem
nascente num lençol
lençol "freiático"
frenético em vertigem

O medo numa progressão
geomerica
sem razão
num expoente biquadrático
cresce
cresce
torna-se mais
muito mais
evolutivo
que uma bola de neve
que uma avalanche
se fortalece e cresce
num pavor vigente
num pavor evidente
em olhos corredores
de cem metros
sem metros
numa fração de tempo
facção de segundo

O pavor condensa
qual água
empedrada
congela
aperta a vida
engessa
o passo
num pânico constante
perene aperto
do pensamento
da espontaneidade