sábado, 26 de dezembro de 2009

Sangram janelas fechadas ou entre-abertas

O sangue da sinceridade
escorre pereno
de janelas edificadas
prédios de tédios

Todo tédio do mundo
está fechado
ou entre-aberto
nos tédios
prédios da terra

Sua falsidade fechada
é eterna chaga
sembre aberta
escancarada
em janelas entre-abertas
mesmo fechdas

Somente mascaras
das feridas
expostas
que moscas sobrevoam sen dó
depositando seus ovos chocos
aprodecendo
a fistula já aprodecida

Mas a fistula odorífica
é berçario
de vermes novos
morotós da condição
social
já aceita e reproduzida...

O sangue de nós mesmos
continuam
em perenes cachoeiras
nacentes em para-peitos
de marmosres
e lapides
frias.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Amanacy, Jururá-açú ou Yebé? Quem você é?

O antropocentrismo
e o etnocentrismo
é a busca incessante
da deusificação
do ser humano

...

Eita ser descabido
somos nós
fazemos chover
e estiar
não atoa degelamos
os polos com nossa vontade
de crescer e acumular

Sabidos de sabedoria vulgar
o rico tem sempre
primeiro lugar
o pobre tem sempre
seu lugar

Caminhamos numa corrida
paralelas ou perpendiculares
de subir sem se importar
pisamos nos outros
em nós mesmos
em túmulos de ideias
do passado
querendo justificar
posturas presentes
desfazendo tudo
que pensamos
que sentimos
num futuro próspero
e Rico

...

Nos dizemos sábios
de laboratórios
fazemos testes skinerianos
em nós mesmos
para adaptarmos
robotizarmos
nosso comportamento:
Todos aqueles
que divergem da rotina
ou do pré-traçado
modo de falar
vestir
comer
pensar
são estranhos
não diferentes
rotulados de estranhos
carimbados de malucos
expostos numa vitrine
ou em banquetes fartos
ou em piadas risonhas normais
e vomitados na exclusão

...

Somos deuses?
Ou nos fazemos deuses?
Somos animais?
Ou somos humanos?
Que somos?

...

Seguimos negando
a origem primata
tratando o diferente
como apendice estrangulado
formatando os modos
as modas os tipos
as formas...
fazendo até chover
dentro de uma caixa oca
dentro de um peito seco

...

Meu tédio te atordoa
Deusa da chuva?

Seu egoismo é meu
meu riso irônico
minha lágrima sarcástica
minha tristeza caustica
meu cotidiano cômico
minha vida comum
minha poesia mesquinha

A leveza sutil de um não (V.A.L.A.)

Um amor se desfaz
numa silaba tônica

Um sonho é desperto
numa monossilábica
plavra solta

Uma vida perde o prumo
numa oxitona
final

...

No soar sinfônico
de um sino bucal
na harmonia desritimada
de um coração afônico
na tempestiva alvorada
de desmedida emoção
nasce assassina nasal
teminada em ão

Num tom
destoante da canção
romântica
que soava ao longe
em barcos a velejar
vinha a música muda
de olhares surdos
em lágrimas cegas
de um não ecoante

...

Sútil melodia
da dançante
lingua aflita
findou um sentimento
perdido
na leveza de ondas
em lazarino vento
derrubando a última
esperança orvalhada
de um timpano triste.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Ode as metades

Somos tantos
em um só
somos metades
tão diferentes
que nem somos inteiros
nem somos só metades.

Tantos eus
num só pote
meio
meio
meio
mesmo que inteiros
somos metades
nem iguais
nem desiguais
metades de ser
que somos um
cheio de metades de seres

Não somos um só
mesmo sendo só um
somos tantos
em tantas metades
que metade vos fala
outra vos olha
outra vos sente
outra vos mente
outra vos julga
outra vos ouve
outra vos toca
outra vos esconde
outra vos revela
outra que pensa
outra que age
uma que repreende
uma que compreende
uma que sorri
uma que é muda
uma que é cega
uma que é surda
uma entende
uma que chora
uma que repele
uma que vos pede
uma que vos nega
uma que vos aceita
são tantas
em tantos meios
que não se perdem
nem se acham

...

somos tantos e tantas
meios e metades
que nem percebemos
e nos achamos um só
sendo tanto tão tanta
metade

Não digo cinquenta porcento
uma
cinquenta outra
somos tão infinitos
em nós mesmos
que não compreendemos-nos
a si, em tantas metades,
mas abusamos em compreender
os outros tão infinitos
em tão infinitas metades

Numa crescente
globalizada pluralizada
singulares metades
metamorfoseam-se
mitoses meioses de eus
que infinitudes de eus
em metades de metades
de metades tão complexas
de complexas metades
que o eu não sabe de si
nem quantos "sis" habitam em um eu

Somos tantos
em tantas partes
que julgam complexos
os humanos
tão simples seres
únicos mesmo
que em infinitas metades

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Destino, coincidência, karma ou acaso: uma estrada de trevas e luzes

Numa estrada de penumbra
sempre a meia luz
nada tão revelado
nada tão encoberto
sempre a meia luz
tudo em perspectiva
de interpretação
dançando no liame da semi-ótica

Nessa estrada tudo tão novo
de novo
tudo tão novo de novo
a história não se repete
é ciclica elipitica e torta
mudam-se as personagens
trocam-se os sujeitos
os predicados
os adjuntos
os complementos
mas o sentido
resiste
não é repetido
a medida que tudo é novo
mesmo que de novo
tudo é novo

...

Entretem o subjetivismo
a ideia de destino
de coisas pré-traçadas
numa introspecção desesperada
de perceber onde reside a culpa
e a participação do ser
no traçado das linhas tortas
de um caminho mudo
de um mundo lido em karmas
hereditariedade das cruzes
uma geneticidade dos erros
e dos acertos
passados inconcientemente
no quociente conciente
das meioses e mitoses
das atitudes pensamentos
virtudes defeitos
sentimentos paixões
depressões
vidas e mortes
reproduzidas na carga genetica
cinquenta por cinquenta
de resgates e resgatados
em familias
amigos
namoradas namorados
em tudo se diz presente
como fruto do passado
amadurecido no futuro
(ou apodrecido)

...

Instigam a objetividade
o fato de serem meras coincidências
todo acontecimento como meras
filhas do acaso
seres soltos no tempo
a deriva no mar dos fatos
dos atos
de uma lógica rota
de uma alógica madrasta
que abandona orfãos
ao fardo do puro
acaso
deus bruto e belo
punitivo e amoroso
"o acaso é um dos deuses mais lindos"
será tudo obra do acaso
filhas de meras coincidências?
a resposta é o proprio acaso que dará
ou seguiremos no estreito cruzamento
da razão da emoção do instinto?

...

Estou numa rua
a cada poste iluminado
cinco, vezes seis ou mais
apagados

Estou no fim de linha
de uma linha de onibus
que não sei qual é
nem sei como peguei-a
mas estou aqui
sem saber por onde rumar
tendo tanto andado sem prumo
ou carregado meu laço pesado
de nós karmicos

Se é tudo fruto
do Destino
algo no futuro
já está pronto

Se é tudo filha
da coincidência
algo no futuro
está sem rumo

A rua tem caminhos
sombrios e penumbrantes
e os mais iluminados
não sei qual lei
que rege
ou o acaso
ou o karma?

Me resigno da minha
ignorância humana
baixo a crista
e sigo persistente
numa caminhada
que não sei para onde vai
nem sei se sei
ou realmente sei para onde vai
abaixo a cabeça
levanto os olhos
tentando iluminar uns postes
e apagar tantos outros.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

PonTuAções

Toda narração
tem pontos
virgulas acentos...

Pontos
em ações
das histórias
das vidas
corridas
narradas
escritas
ditadas
descritas
por atores
ou diretores
ou autores
das suas proprias vidas
das dos outros
ou ditadores de vidas
alheias

Mas as pontuações
pontua ações
acentua ações
regula ações...
enfatiza
inicializa
infinitualiza
questiona
ou finaliza
ações

...

Tem gente adepta
do ponto
aquele que termina
um ponto final

Muitos sob justa
causa
finalizações.

Outros sob justa
defesa
protege-se
faz de bloqueio
um escudo-final
pondo um ponto
numa historia
inacabada
numa frase
que cabia
reticências

Deixa de escrever
um capitulo
uma pagina
ou um paragrafo
que poderia
PO-DE-RIA
ser feliz
ou triste
não se sabe
foi fechado
lacrado
num ponto de finalização

Muitas lágrimas
podem ter sido
evitadas
assim
ou terem sido
derramadas
por finalizações antecipadas
ou não
por medo
ou não
assim como os risos
quantos
quantos risos
se calaram
ou não
num ponto
de finalização?

....

Sinceramente
gosto da interrogação
minha amiga
parceira
do conhecimento
depois dela
vem a humanidade
da razão
a dor do pensamento
a indigestão
do raciocinio...

Mas
sou mesmo
é apaixonado
pela reticências
(não por deixar
coisas sem
falar)
(talvez por ser
amiga
da introspecção)
por ter
um sentido
de imensidão
um valor
de infinitude
um signo
da eternidade...
além de ser
amiga
da interrogação
não tão clara
explicita
como a sinuosa amiga
mas
intrigante
em suas longas
pernas enigmaticas...

sábado, 24 de outubro de 2009

Resposta à pergunta: “Cm vai vc?”

Indo
Vindo
Na onda

Na vaga
Ida
Na vaga
Vinda

Subindo
Na cheia
Descendo
Na vazante

Vezes
Amante
Na minguante
Depressivo
Numa cheia

Indo
Vindo
Na onda

Na vaga
Ida
Na vaga
Vinda

Descendo
Em calor
Escaldante
Subindo
Em chuva
Torrente

Vezes
Amigo
Na tristeza
Solitário
No sorriso

Sou e vou
De fazes
Por vezes
Por fazes
Sou poeta ou prolixo?
Vou pro ésia ou pro lixo?

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

An? Si... Ah SaLdade

Um vazio
de nó engarguelado
quase sufocado
em busca
do último
suspiro
derradeiro...
Respiro...

...

Uma turba
de mil vozes
mil vezes velozes
zumbindo
zombando
em torno
do último
respiro
derradeiro...
Suspiro...

...

Um vendaval
de olhos juizes
guias cegos
tornad'olhos
a julgar
meu último
pestanejar
derradeiro...
Observo...

...

Um deserto
de silêncios transpirantes
matreiros desejosos
escaldantes
sintilantes
cegantes
de emudar
meu último
olhar
derradeiro...
Pestanejo...

...

Uma enchente
de tanta
quanta gente!
ao redor
rodeando
rodando
minha última
única
derradeira
Solidão saudosa.

...

E eu só
num sal
impaciente
da saudade
tal
um paciente
fibromiálgico
marcado como extra
de pé
com dores
numa sala imensa
de espera
extensa
abarrotada
sem saber quando
vai ser chamado.
Quando?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Somos todos hipócritas e/ou loucos?!...

I - Nave da hipocrioucura

O Mundo é um teatro mágico
Real
Surreal
Irreal
Profundo fundo raso trágico

O Mundo é um cenário cômico
Retratado Pintado
Atuado
Reluzente aparente opaco cáustico irônico

O Mundo é uma arte pesada
Escrita
Transcrita
Descrita
Criada transformada adaptada copiada


II - Teatro Cenário Papéis

Há paisagem ou pintada
Arquitetada
construída
destruída
natural
ou deformada

Há paisagens formuladas
estruturadas
maquinadas
engrenadas

Há paisagens destituídas
largadas
abandonadas
esquecidas

Há paisagem humanizada
Demonizada
naturalizada
politizada
economicista

Há paisagem formal
social
cultural
natural
informal
informatizada
academicista

São cenas elaboradas
impostas
dispostas
corroboradas

São cenas forjadas
Hereditárias
casuais
sentimentais
emocionais
suicidas

São cenas louvadas
Litúrgicas
Letárgicas
Orgásmicas
humanas
divinas

São cenas trabalhadas
labores
humores
pavores
amores
acertadas
erradas

De papéis densos
impostos
dispostos
simples
compostos

De papéis frágeis
risos
choros
lamentos
contentos

De papéis fortes
deveres
obrigações
direitos
lazeres
prazeres

De papéis tenros
familiares
amizades
amores
paternidades
maternidades
cumplicidades

De papéis fúteis
etiquetas
elegância
postura
riqueza

De papéis cotidianos
rituais
habituais
culturais
cíclicos

De papeis essenciais
higiene
medicinais
escolares
cognitivos

De papéis astros-reis
sapiência
doutores
mestres
bacharéis
marketings
banqueiros
politicagens
politiqueiros


III – Fatos atos gestos risos choros silêncio

Choramos em enterros
Tem aqueles que celebram
Bebem o defunto
Há ainda aqueles que se calam

Sorrimos o nascimento
Uns choram
Uns calam

Indignamo-nos com os crimes
Vistos lidos ouvidos nas mídias
Uns riem
Uns choram
Uns calam
E todos seguimos o que estávamos fazendo

Todos, ou quase, votamos
Uns em festa militante
Uns em coro protestante
Uns calados em melancolia

Todos apontamos os culpados
Pela situação do país
Com o indicador para Brasília
Mas os dedos: o maior de todos
O anelar e o mindinho
Apontam-nos de volta
Há quem culpamos?

Dois anos depois

Todos, ou quase, votamos
Uns em festa militante
Uns em coro protestante
Uns calados em melancolia

Uns choram de fome
Uns sorriem saciados
Uns se calam e comem

Outros tantos choram saciados
Outros sorriem e comem
Outros se calam de fome

Há ainda os que choram e comem
Os que sorriem de fome
Os que se calam saciados

Pessoas choram o amor
Pessoas riem o ódio
Pessoas calam a consciência

Tem os que choram o ódio
Tem os que riem à consciência
Tem os que calam o amor

Choram à consciência
Riem o amor
Calam o ódio

Acusam sorrindo
Julgam chorando
Culpam calando

Acusam julgam culpam
Sorrindo chorando calando
No olhar
Na palavra
Num gesto
E seguindo adiante
Como nada dantes

Há aqueles que são a nata
Estão por sobre tudo
Sobre todos
Tudo podem
Tudo querem
Tudo tem e querem mais
Mas mesmo eles
Riem
Choram
Silenciam
Sendo a nata
De um leite já azedo

Lutamos contra o sistema
Fazemos grupos
Sociedades secretas
Formamos partidos uniões
Erguemos bandeiras
Varamos madrugadas
Traçamos estratégias
Debatemos teorias noite adentro
Logo após
Pegamos nossos carros
Não damos carona
Fechamos o vidro no sinal
E vamos dormir na segurança
Da propriedade privada
Numa cama macia
O sono dos justos indignados

Trabalhamos em jornadas altas
Varando horas extras
Para pagar impostos
E por a mesa
Para uns sem lazer e sem prazer
Para outros com lazer e com prazer
Não nos reconhecemos
Ao fruto do trabalho
Mas reconhecemos
O fruto-salário
Ou Reconhecemos
O fruto do trabalho
E desconhecemos
O pouco salário

O sistema de ensino é uma interrogação?
Ensinam o que?
Aprendem o que?
Matérias impostas
Carteiras dispostas
Turmas compostas

Professores dispostos
Matérias impostas
Alunos compostos

Professores Impostos
Escolas compostas
Alunos dispostos

Escolas matérias professores alunos
Riem choram calam

As famílias célula primaz
De uma sociedade
Fazem parte dessa loucura?
Fazem parte dessa hipocrisia?
São pais mães filhos filhas parentes
Numa cumplicidade constante
De ordem e desordem cíclica
Dentro do mesmo universo

E todos riem
E todos choram
E todos silenciam
Todos risos
Todos choros
Todos silêncios


IV – Humanos

Somos HUMANOS
Não somos deuses
Temos a tendência a nos deusificar
Estabelecemos verdades absolutas
Ciências absolutas
Religiões absolutas
Ideais absolutos
Utopias absolutas
Absolutamos tudo
Numa loucura coletiva
Rimos choramos calamos
Numa hipocrisia coletiva

A única verdade absoluta na vida é a morte
No mais
Somos humanos
Eus em um eu
Somos humanos
Passiveis a erros e acertos
Somos humanos
Nem hipócritas nem loucos
Somos humanos
Animais mamíferos
Somos humanos
Temos liberdade de pensamento
Temos liberdade
Somos humanos
Todos loucos
Todos hipócritas
Somos humanos
Diversos
Universos
Poliversos
Controversos
Cúmplices em nossa humanidade.




Rubinho 01/10/2009

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Quina d'olhos

De banda
de lado
medido inteiro

De banda
de lado
julgado culpado

De banda
de lado
criticado rotulado

De banda
de lado
dualizado carimbado:
falso ou verdadeiro

De banda
de lado

De lado
de banda

Sempre de canto
um tic
um toc repressor
opressor de pranto

Sempre de canto
reprimendas furtivas
involuntarias hortigas
prurido do encanto

Sempre em cantos
deserta e institiva
balança social
mensura o ser
rotula o todo

Sempre de canto
esquinas de olhos
maquinas dos tolos.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Nido Vacío

O vazio é imensurável
oxidante assassino:
corroi as vontades
mata os desejos

O vazio é enchente
quebrante de marasmo
afunda a mente
num melancolico naufragio

O vazio é perda
de um amor
de um objetivo
de uma paixão
de um chão
de uma consciência

O vazio não é maior
por isso
ou por aquilo
existe
é um espaço oco
cheio de um vacuo
morto.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Vertigem

Quanto tempo tem
o tempo que passou
as horas que esqueci
quem sou

Quanto tempo tem
os dias que perdi
tonto a procurar
meus pedaços

Quanto tempo tem
que fiquei assim
em ansia a catar
meus cacos

Quanto tempo tem
o tempo que não sei
quanto tempo estou
sem mim sem tempo

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Dream's shine

Uma iluminação diversa
multicolor
incandeia os sonos
dispersos
no mundo onirico

Pais namoram
barrigas
imaginando brilhos
futuros cintilantes

Crianças suspiram
vontades verdes
sinceras de viver
raras felicidades primaveris

Adolescentes gozam
desejos vis
carnais
tão vermelhos
suspeitam ansias
arcoiris incertos

Adultos preocupados
pintam suas ambições
das cores preferidas
ou infligidas

Idosos sonham
em auroras
seus tempos diferentes
recordam
comemoram
choram
pintam lembranças
amargos rancores
realizações agridoces

...

A inveja não existe
no meu sonho
assim como os dissabores
desilusões
ansias angustias
depressões
pena
que toda noite
eu sonhe sempre
sempre toda noite
sem brilho
um sonho cinza
opaco e fosco
um cinza sem brilho.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Existencial(ismos)

Há certeza na vida
a que um dia
vai acabar
e a ceifa
fria e solitária
cortará
sua tenue linha
e para onde vão
os vãs apelos
desse mundo fetichista
o que vai ser comido
digerido pelos vermes
se não
somente
a carne e as entranhas?
o que foi feito
o que foi deixado
qual legado de uma vida?
- A riqueza
(respondeu Smith)
o sorriso de Satã
ecoa no inferno de Wall Street
e nos mares bravios
e individualizados de marmore
asfalto
cimento
das megalopoles
regozijando em ganancia
ilusionando a existência
cegando o mundo

As lágrimas de Deus
escorrem
do coração humano
que se perdeu
sem rumo
sem prumo
sem norte
numa existência rota
de uma cotidiana luta perdida
para a ilusão das necessidades
impostas
ditadas
dando vasão
a uma enxurrada de depressões
de perversões
de ansias e angustias
de incertezas sobre as certezas
futeis inexistências
presenciais
num cartão de ponto diario
se apagando
negando-se e desconhecendo-se
no arduo trabalho

A ciência ditadora soberana
soberba arte
é seguida como pura
divina e positiva
impera na tentativa
de adiar a vinda
da Rainha amorosa
em vão
empenha-se em derrota-la
mas não cura
as vezes retarda
mas não cura
ela sempre vem
fria
pálida
séria
e ceifa a alma

Não há verdade absoluta
além da morte
que ela vem
e que pode ser rápida
o ser nasce
e morre
ou lenta
lentissima
usa e abusa de suas manhas
artimanhas
vai matando vagarosamente
a cada minuto
a cada segundo
ela crava suas unhas
veneno temporal
nas viceras
envelhecendo
adoecendo
sufocando
jogando um xadrez sincero
de xeque-mate na vida

Luzes Laterais

Quando a luz incide
não clareia
meias verdades
não penteia
meta-mentiras
resvala nas formas opacas
(nada é trasnlúcido ou transparente)
das coisas
dos seres
das vidas
dos sentimentos
das ideias
revela-as multimorfas

Descentraliza toda palavra
sufoca o verbo
assassina o nome
o indicativo
os adjuntos
transpira o sujeito
respira reticências
interrogações

Relaciona-se intensa
(ato sexual)
lambe as faces
de tudo
todos
tadas
goza ao chão
diversa poças...

Nada nesse mundo
é raso ou profundo
mas tudo
(até no escuro)
tem sombras.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Que falta faz a Utopia

“A utopia está lá no horizonte.
Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizontecorre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.” Eduardo Galeano, escritor uruguaio

Amei um dia...

O amor move o ser.

A utopia é o amor a uma idéia, um sonho…
…uma idealização amada…
…uma força motriz.

Como posso andar, agora,
Sem sonhos, sem a idealização do Amor,
Sem a quimera de um país justo
E igualitário?

Por onde pisar, se o chão é seco e cinza?
Se as flores e o perfume da fantasia
Não inebriam meu ar,
Se respiro árido
E choro poeira?

Onde colher prazeres
Se as árvores-de-carinho viraram carvão,
Afastaram-se e individualizaram-se?

Como sorrir sincero, com a alma? Como?
Como?
Estando a alma vazia,
Impregnada de normalidade,
De uma normalidade perversa e cruel?
Como rir, de uma distância cotidiana
Entre os seres,
Entre o pensar,
Aumentada pelas horas
De trabalho, de aflição,
De trânsito, de ira, de solidão,
De egoísmo, de vaidade, de orgulho, de preocupação?

A rotina é uma patroa autoritária
Nos impede de pensar,
De refletir, de amar...
Tirana, impõe o império do tempo
Da produção, do dinheiro...
A rotina é uma senhora esfomeada
Ávida de suas gulseimas
Devora-nos os sonhos, as Utopias…

Como viver sem Utopia?
Como viver sem Amar?
Como viver sem fantasiar com dias melhores?

Mas e a Felicidade, e o Amor?
São solitários?
Ama-se sozinho?
É capaz de ser Feliz sozinho?
Ou necessitamos dos outros para sermos Felizes?
Ou necessitamos dos outros para Amarmos?

Sem Utopia, ficamos podados,
Fardados a uma existência rota,
Arrastando-se ao dia da ceifa
Para morrer solitário,
Isolado na tristeza.


- Quanta falta faz a coletividade da Utopia…

21/10/07