terça-feira, 21 de julho de 2009

Vertigem

Quanto tempo tem
o tempo que passou
as horas que esqueci
quem sou

Quanto tempo tem
os dias que perdi
tonto a procurar
meus pedaços

Quanto tempo tem
que fiquei assim
em ansia a catar
meus cacos

Quanto tempo tem
o tempo que não sei
quanto tempo estou
sem mim sem tempo

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Dream's shine

Uma iluminação diversa
multicolor
incandeia os sonos
dispersos
no mundo onirico

Pais namoram
barrigas
imaginando brilhos
futuros cintilantes

Crianças suspiram
vontades verdes
sinceras de viver
raras felicidades primaveris

Adolescentes gozam
desejos vis
carnais
tão vermelhos
suspeitam ansias
arcoiris incertos

Adultos preocupados
pintam suas ambições
das cores preferidas
ou infligidas

Idosos sonham
em auroras
seus tempos diferentes
recordam
comemoram
choram
pintam lembranças
amargos rancores
realizações agridoces

...

A inveja não existe
no meu sonho
assim como os dissabores
desilusões
ansias angustias
depressões
pena
que toda noite
eu sonhe sempre
sempre toda noite
sem brilho
um sonho cinza
opaco e fosco
um cinza sem brilho.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Existencial(ismos)

Há certeza na vida
a que um dia
vai acabar
e a ceifa
fria e solitária
cortará
sua tenue linha
e para onde vão
os vãs apelos
desse mundo fetichista
o que vai ser comido
digerido pelos vermes
se não
somente
a carne e as entranhas?
o que foi feito
o que foi deixado
qual legado de uma vida?
- A riqueza
(respondeu Smith)
o sorriso de Satã
ecoa no inferno de Wall Street
e nos mares bravios
e individualizados de marmore
asfalto
cimento
das megalopoles
regozijando em ganancia
ilusionando a existência
cegando o mundo

As lágrimas de Deus
escorrem
do coração humano
que se perdeu
sem rumo
sem prumo
sem norte
numa existência rota
de uma cotidiana luta perdida
para a ilusão das necessidades
impostas
ditadas
dando vasão
a uma enxurrada de depressões
de perversões
de ansias e angustias
de incertezas sobre as certezas
futeis inexistências
presenciais
num cartão de ponto diario
se apagando
negando-se e desconhecendo-se
no arduo trabalho

A ciência ditadora soberana
soberba arte
é seguida como pura
divina e positiva
impera na tentativa
de adiar a vinda
da Rainha amorosa
em vão
empenha-se em derrota-la
mas não cura
as vezes retarda
mas não cura
ela sempre vem
fria
pálida
séria
e ceifa a alma

Não há verdade absoluta
além da morte
que ela vem
e que pode ser rápida
o ser nasce
e morre
ou lenta
lentissima
usa e abusa de suas manhas
artimanhas
vai matando vagarosamente
a cada minuto
a cada segundo
ela crava suas unhas
veneno temporal
nas viceras
envelhecendo
adoecendo
sufocando
jogando um xadrez sincero
de xeque-mate na vida

Luzes Laterais

Quando a luz incide
não clareia
meias verdades
não penteia
meta-mentiras
resvala nas formas opacas
(nada é trasnlúcido ou transparente)
das coisas
dos seres
das vidas
dos sentimentos
das ideias
revela-as multimorfas

Descentraliza toda palavra
sufoca o verbo
assassina o nome
o indicativo
os adjuntos
transpira o sujeito
respira reticências
interrogações

Relaciona-se intensa
(ato sexual)
lambe as faces
de tudo
todos
tadas
goza ao chão
diversa poças...

Nada nesse mundo
é raso ou profundo
mas tudo
(até no escuro)
tem sombras.